Sempre que voltava para casa, após as cansativas jornadas de
trabalho, o motorista José Ailton caminhava pelas ruas do México 70, na Vila
Margarida, em São Vicente, e algo o entristecia.
Via a molecada jogando bola em condições precárias,
descalços, no chão quente, sob sol e chuva, entre bicicletas, motos, carros e
caminhões.
A insalubridade e o perigo a que estavam sujeitos aqueles
garotos poderiam ser mudados, pensava Ailton, quando teve a brilhante idéia,
isso em 2004, de criar um projeto que hoje completa sete anos.
Nascia a organização Meninos do Brasil. No começo, por falta
de espaço, reunia cerca de 30 garotos na quadra do Primavera Futebol Clube,
Clube famoso no bairro. A sede provisória era e ainda é em sua residência.
O projeto cresceu sempre voluntarioso, até que, em 2006,
tornou-se organização não-governamental. Como o Primavera fechou, o pessoal
passou a treinar nas quadras das escolas públicas Pinho Rodrigues e Laura
Figueira.
Infelizmente, o grupo ainda não conseguiu um trabalho com
visibilidade. Entre outros motivos, porque os colégios têm suas próprias
atividades, limitando, dessa forma, o projeto, que acaba ficando em segundo
plano.
Nesse tempo todo, o projeto sobrevive com apoio dos próprios
pais, bingos, rifas e doações do comércio local. Por não haver disponibilidade
de quadras, o trabalho é feito aos sábados e domingos.
Em Busca de Espaço.
Na
certa por falta de tempo, e pela vida atribulada da população, a maiorias dos
pais não participam das atividades. Dos cerca de 150 atuais, apenas uma meia
dúzia ajuda diretamente o grupo.
O projeto envolve meninos de 5 a 17 anos, em dez categorias,
que participam de torneios, campeonatos da liga regional de futsal, copas internas,
copinhas escolares, amistosos e excursões a cidades da região.
Objetivo.
O ponto positivo da iniciativa é despertar interesse dos
garotos por atividades físicas com disciplina e possibilitar convivência
social, auto-estima e formação de caráter cidadão.
O projeto poderia crescer se tivesse um espaço disponível
para atividades diárias. Com isso, teria até outras modalidades, como capoeira,
vôlei, judô, handebol etc.
A média de garotos beneficiados é de 150, mas poderia ser
muito maior. E isso acontecerá, certamente, porque o sonho de Ailton, e agora
do grupo, ainda não acabou.
Nossos Filhos.
De quem são (ou podem ser) filhos os Meninos do Brasil? De
homens e mulheres das mais diversas profissões. De aposentados. De, artistas,
assistentes sociais, atletas, bancários, bombeiros, comerciantes, comerciários,
contabilistas, desempregados, domésticas, encanadores, enfermeiros, engraxates,
estivadores, faxineiros, funcionários públicos, guardas noturnos, jornalistas,
lixeiros, massagistas, mecânicos, motoristas, mototaxistas, operários,
pescadores, pintores, portuários, professores, profissionais liberais,
químicos, secretárias, sindicalistas, vidraceiros, zeladores. Trabalhadores e
trabalhadoras das mais diversas profissões.
Todos sonhadores e lutadores, ávidos por um futuro melhor às
nossas crianças e jovens. Nascidos ou não nesta cidade são vicentinos.
Moradores de bairros populares e periféricos, que conhecem de cor e salteado os
sonhos e as dificuldades da infância e da juventude. Entre eles, o sonho de se
tornarem craques de futebol.
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